Eu aclamava por poesia, detestava o terno e os sapatos da sociedade. Jovem, destemido e com uma ingenuidade enorme, era um inocente no mundo. Tentava me adequar a arte, abraçava a solidão e beijava as palavras. Talento não reconhecido, talento não adequado. A cultura do vazio não permite imperfeições. Não consegui seduzir a sociedade do desejo, do prazer instantâneo. Envelhecendo aos poucos, bebendo os clichês da mídia, fui me tornando algo. Este não era a genialidade que buscava, não tinha um poder poético singular. Da literatura até a poesia, tudo me sentia e me perfurava. Não consegui criar ou inovar, me adaptei à necessidade, adquiri sinceridade, perdi aos poucos a honestidade dos devaneios, mas aqui estou, escrevendo...palavra por palavra, sentimento mais emoção, um pouco de razão aqui, um pouco de filosofia ali, e logo estaremos nos trinques. Eu queria ser um escritor reconhecido, mas não o sou, talvez um dia, muito fora dos padrões, muito heterodoxo. Eu queria ser um escritor, não o quero mais, pois já sou. 

F.M.Ogata - Wolf Lars

Em que tempo exatamente vivemos? Que sociedade é essa que cerca de 65% (58 % em alguns sites) dos brasileiros acreditam no argumento: "mulheres que usam roupas que mostram o corpo merecem ser atacadas"? a culpa é das roupas utilizadas? da estética modelar cotidiana? das altas temperaturas que provocam o uso das "bermudinhas"? então quer dizer que se eu saio com alguma roupa "indevida" na rua é porque convoco um estupro? 

Pra quem faz parte dos 65% que concordam em tal argumento, falta-lhes ética, educação, bom senso e atitude crítica. Quando referi-mo a bom senso não falo em senso comum, falo em um senso crítico, questionador e que por isso difere do senso comum. 

Duas questões me perturbam à respeito da pesquisa do IPEA, a primeira tange a questão da votação, isso é, será que essa pesquisa foi questionada à homens e mulheres, ou apenas homens, pois caso a pesquisa tenha sido realizada para ambos, a situação é mais preocupante, pois existem mulheres crentes que roupas "indevidas" são causas necessárias de estupro. Se a pesquisa foi realizada somente entre homens, então somos nós, homens, que devemos nos manifestar. 
Outra questão é: Quando se fala em estupro a culpa é de quem? existe um culpado?
Se pensarmos à finco, a culpa nada tem haver com a mulher. O conceito de estupro vai de encontro ao sexo forçado, sexo que não é consensual, e se é consensual não é estupro, na verdade seria fetiche. O homem, em grande maioria, tem uma força física superior ao da mulher, sendo o controlador da relação como o ativo. Basta a força bruta para quebrar o consensual. 

Há muito o que refletir sobre as possíveis causas de estupro, isso é,  porque ocorre o estupro?
Uma primeira abordagem seria  puramente psicológica, ou seja, a causa é estritamente do individuo que estupra, onde ele pode possuir um histórico pessoal problemático ou não possuir uma consciência ética, ou ainda  não ter sido "educado" adequadamente. Se o estuprador não foi educado adequadamente, a causa não é estrita e sim social, onde provavelmente não teve uma boa educação ou não sabe questionar. Caso considerarmos a educação como ponto culminante da causa, então chegamos ao velho clichê "A solução do Brasil é a educação". O problema do clichê é que não basta um longo investimento financeiro na educação e um incentivo aos salários dos professores,  é preciso além disso, uma reformulação na educação. Reformular a educação de uma maneira mais democrática, aberta e crítica, onde o indivíduo aprenderia a olhar a sociedade sob diversos pontos de vista, aprenderia ética, buscaria razões para qualquer tipo de opinião e formularia suas próprias questões. Reconstruindo a educação e criando uma razão crítica na sociedade, talvez reduziria os estupros. Digo talvez pois mesmo com uma educação reformulada ainda existe uma natureza humana.

Outra causa relevante é um fator histórico, sociológico e cultural. O Brasil ainda é um país preconceituoso que eventualmente, em diversas regiões do Brasil, o diferente é atacado.  Séculos atrás a mulher não podia trabalhar sem ser criticada, não podia mostrar as pernas, algumas até hoje não podem mostrar o rosto. Ao que parece muitos continuam com a mentalidade de séculos atrás, numa cultura que não se encaixa mais, esquecem da igualdade de direitos, da liberdade de corpo e expressão. Diante dessa situação, devemos lutar para reaver esses direitos e trabalhar de forma justa. Justo é a equidade.
Nesse sentido não basta só uma mudança na educação, mas sim uma mudança na cultura em geral, na política, reformas sociais, incentivos da mídia. A violência contra a mulher é um processo histórico que deve ser eliminado.

Alguns comemoraram a ditadura e a violência, outros defendem com rigor o comunismo,  poucos questionam e só alguns pensam por si. Acomodados caminhamos, diante da turbulência de absurdos, alguns conseguem aclamar que a culpa do estupro é da roupa da mulher. Não entendem a beleza feminina, a sutileza e a delicadeza da mulher, não questionam as causas e nem pensam historicamente. Quem acha que o sexo frágil é o feminino e pensa que a culpa do estupro é feminina, esquece que quem não controla os desejos é o causante, o frágil, o que não distingue valores.

F.M.Ogata 

Wolf Lars- @ogataogara


"Lá distante, meio aterro de almas soterradas pelo sofrimento, John dizia a si mesmo se poderia continuar com aquela canção. Tinha apenas algumas memórias embaçadas de sua mulher, imagens dos guerreiros mortos em último combate, discursos dos generais de guerra, algumas algazarras de seus colegas e claro, sua rabeca e alguns versos. Se parasse com aquela canção era o fim, seria considerado um desertor e o rei iria enfocar sua cabeça, assim como quase todos os seus amigos.
John, não sabia muito bem o que acontecera noite passada, mas os soldados do rei estavam agitados, pareciam ansiosos com algo que poderia acontecer. O soneto continuava, os dedos se misturavam em sua rabeca e enquanto isso, alguns nobres fitavam-o como se fosse um ser divino.
John não era muito bonito, tinha cabelos escuros, nariz apontado, olhos grandes arregalados, dentes estourados de guerra e ainda havia uma cicatriz marcante em sua bochecha, além da barba mal feita e serrilhada. Algumas donzelas achavam-no atraente com sua rabeca.
Quase que morrendo por dentro, John cantava e tocava sua rabeca, pra quem ouvia parecia uma mistura de melancolia e harmonia. No momento em que John chegava em uma espécie de refrão, um soldado se aproximou, tocou a cabeça de John com uma espada, de forma que John quase parou sua canção, e falou..."

Trecho de "Crônicas e ensaios sobre a vida."

Esse trecho é uma parte do que estou tentando escrever, não espero críticas boas, mas por favor opinem!

F.M.Ogata Larsen

O blog teve um percurso interessante. Desde a sua abertura  passamos por inúmeras ausências, posts com muitas visualizações, com poucas, muitos chegaram a seguir o blog e mesmo assim,  não atingimos o esperado. Tentamos por vezes aumentar os posts, mas o público parece preferir coisas que sejam de mais fácil acesso e pouca leitura... Então, decidimos...

Que o blog volta! e volta com tudo... Além do blog, vamos elaborar um vlog, dois videos por mês sobre as publicações para os preguiçosos de plantão. Aguardem por novidades.

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