Imagine que você fosse um sábio. Imagine que você fizesse um poema paradoxal, genial, de difícil interpretação, e que, após um tempo, um outro sábio formasse uma imagem equivocada sobre você. Imagine agora que todos os leitores posteriores de seu poema não conseguissem deixar essa caricatura sua e só falassem de você e de seu poema com base nessa caricatura vulgata feita por este sábio.

Assim, por muito tempo, têm sido as interpretações dos poemas de Parmênides. Se você se deparar com um dicionário de filosofia, um romance sobre uma menina curiosa, ou mesmo livros sobre filosofia clássica, é bem capaz de, nas descrições sobre Parmênides, aparecerem unânimes as suas características - aristotélicas - básicas: um completo imobilista, que nega a multiplicidade de fenômenos para defender uma realidade sempre estática, que defende a existência apenas de um "ser" dificilmente compreendido... E por aí vai.

Para piorar, do Poema de Parmênides temos apenas fragmentos que restaram de um estudo feito por diversos filólogos. São 19 fragmentos ao total - existindo outros 6 fragmentos duvidosos - organizados em ordem de sucessão, próxima ao original. Eles foram organizados por Hermann Diels e Walter Kranz, quando ganharam suas numerações. O poema é dividido em três partes. A primeira sendo o proêmio, onde há um viajante guiado por uma Deusa às vias de questionamentos concebíveis e ao conhecimento verdadeiro. A segunda parte, trata-se do discurso dessa Deusa sobre o conhecimento da Verdade. Por fim, há a terceira parte, onde é exposto o discurso das opiniões dos mortais.

Sendo este o primeiro post dessa série, aqui não faço nenhuma interpretação ainda. Para cada fragmento (alguns, com dois ou três fragmentos) haverá um post, apresentando diferentes interpretações, as controvérsias, o intuito de parmênides - especulação - ao escrevê-los... O que renderá bastante conversa com vocês, leitores. Para que tenhamos uma leitura rica, devemos primeiro deixar a imagem vulgata aristotélica de Parmênides. Devemos priorizar a análise do seu texto, dos originais, para assim ter a oportunidade de compreender melhor este filósofo que impressionou tanto Platão como Hegel e Einstein.

Deixo aqui disponível o link dos Anais de Filosofia Clássica do IFCS-UFRJ, onde há, além de diversos comentários sobre o Poema, uma versão ótima, download gratuito, comentada, sobre o Poema - inclusa a versão original grega: http://www.ifcs.ufrj.br/~afc/

1 comentários:

"Boa" colocação, mas deve-se tomar cuidado pra falar de Parmênides, ele pode ser usado como forma ideológica.

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